segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Voltando para "casa"...


(Brasília, dia 01/08/2010, 11:30, voltando de São Luís-MA para Belo Horizonte-MG)


A sensação de deixar aquela que você desde a infância chamou de sua casa e retornar para agora aquilo que você TEM que chamar de casa pode ser definida neste momento em que escrevo como nauseante, estranha e se pudesse ter alguma cor esta certamente estaria fosca, como um véu na fronte  que evita que se possa enxergar a realidade. Começa quando se aproxima a partida e vai se intensificando conforme o “dia” vai chegando e dura alguns dias depois de chegar “em casa”.

Essa náusea incomoda, é como se por algum tempo você não estivesse nem lá e nem cá e sim em um plano paralelo a ambos, com a visão sobre os dois lugares misturadas, é como se houvesse ali um sono que não passa, você estivessse em um sonho talvez, que não é bom. Não, você não está lá! É essa a conclusão quando você chega... Embora você esteja na companhia de pessoas que lhe são importantes. Você abraça naqueles últimos dias antes de partir com uma intensidade diferente como se aquela figura ali nos seus braços você se esvair e escapar e te deixar, porque você está atemporal, você diz palavras de carinho com mais facilidade do que nunca antes dissera, você não pode se sentir mais humano do que nesses momentos... Você olha para sua casa, para as paisagens como se fossem quadros em tinta fresca onde a tinta escorre e deixa tudo manchado e você não mais pode enxergar sua pintura novamente, tudo vira fumaça, se torna nebuloso.

Naqueles dias recentes de sua chegada, você fecha os olhos e imagina estar lá na sua “casa” e nunca em “casa”... Você quer colocar os pés no chão, mas você está flutuando, quer começar de novo, mas não consegue pois está leve demais, embora o coração esteja pesado, você se sente tão ferido que não consegue imediatamente encarar aquela que é agora a sua vida.

Mas se é tão difícil por que não voltar? Por que um dia você saiu de lá?

Se quisesse voltar agora, o que torna tudo ainda mais difícil é que você aprende a gostar das pessoas que entraram na sua vida neste novo lugar, aprende a gostar do ambiente e isso enche o coração de culpa. "Como posso amar outras pessoas e lugares? Aqueles que sempre estiveram ao meu lado não podem perder seu espaço diante dessas novas coisas, você pensa...". E embora você nem pense tanto neles enquanto está em casa, você sabe que isso acontece porque terá que voltar para junto deles inevitavelmente e isso mascara qualquer gota de saudade que possa fluir de seus olhos, mas dentro de você algo te diz que futuramente você vai sentir muita falta desta fase, deste tempo... Enquanto aqueles com quem você tem tão pouco tempo podem não estar mais lá quando você voltar, se voltar, porque alguns deles já estão velhos e talvez você não esteja lá para compartilhar seus últimos dias e talvez nem possa vê-los pela última vez, mesmo que frios e isso corrói, isso desgasta e isso pesa a cada dia que você não está lá... Bem a pessoa totalmente desapegada que você pensou ser está seriamente em dúvida sobre essa condição.

Mas o tempo mais uma vez é a chave desse sofrimento que chega a ser quase insuportável e que tanto te amarra e te faz olhar para trás, porque você sabe que se tivesse ficado lá não haveria felicidade... Porque você estaria abrindo mão de sonhos que são a base de sua vida e que é por todos aqueles que ficam lá te dando tchau com lágrimas nos olhos que você faz tudo que faz. A resposta é: Só é bom porque você sabe que terá que voltar para mais um passo na conquista do seu objetivo, você não desistiu, você escolheu lutar, o caminho que é sempre mais difícil e sabia desde o princípio que não seria fácil. Você supera tantas e tantas dificuldades porque sabe que são passageiras, ou pelo menos acredita nisso... Por que todos os conflitos que sempre te acompanharam lá, ainda estão lá. Não, tudo não ficou maravilhoso repentinamente, a família ainda briga, ainda não te aceita como você escolheu ser, o clima ainda é pesado, você ainda discute... Mas é que a distância te faz dar mais valor àquilo que merece valor, os bons momentos... quando você vai embora você só lembra deles e das coisas boas e isso faz aquela que era sua casa ser irresistivelmente o lugar onde você queria ficar para sempre, perfeito, mas o que conforta é saber que não é assim...

No fim você tem que trilhar seu próprio caminho e tentar encontrar felicidade nele e sentir falta de tudo que te fez feliz até ali e essa saudade “tem” que se tornar suportável, por que afinal a vida é isso, uma eterna superação... E a cada passo que você dá, todo o resto inevitavelmente fica para trás e o que fica é só o que você viveu.